sábado, 15 de junho de 2013

O fim de uma história de amor

Vamos voltar para a década de 1980.
Você é um jornalista gaúcho. Trabalha como setorista no clube do seu coração.
Numa tarde, aparecem alguns jovens vindo do interior.
Um deles, tem cabelo que lembra um Beatle, ou foi cortado como se tivesse um penico na cabeça.
Rapaz habilidoso, chuta forte. É um líder em campo.
Você se encanta. Vai falar com ele. Descobre que o ele é filho de um jogador, ídolo de um clube do interior.
Todos os dias nos meses seguintes, você acompanha o jovem. 
Você fala bem no teu veículo de imprensa.
O jovem agradece.
Você janta com a família dele, pessoas ótimas.
A família agradece o fato de você ficar pedindo ele no time principal.
No ano seguinte, o time dele não tinha nada para fazer e foi representar o Brasil em uma Olimpíada!
O time perde. Medalha de prata.
Você valoriza a conquista.
O jovem foi vendido, foi para o centro do país.
Você sente um aperto no peito, mas isso faz parte da vida dos jogadores de futebol.
Talvez nunca mais o visse.
São Paulo, Rio... o rapaz foi para a Europa, na Itália.
Você vibra, afinal, você se sente responsável pelo sucesso na carreira dele.
Quando ele volta para o Estado, vem conversar com você no seu programa de rádio.
Fala sobre a vida na Europa.
O teu amigo é convocação para a Seleção Brasileira.
Que orgulho.
Mérito dele. E teu!
O jogador te agradece pela força.
Ele é leal.
Vai disputar uma Copa do Mundo.
Ele não deu o bote no meio de campo e o adversário driblou toda a Seleção, deu o passe e tomamos um gol.
Tristeza.
Teu amigo jogador foi culpado por esta derrota. Injustamente.
Some da Seleção.
Muda de time na Europa, vai para a Alemanha.
Você vibra quando ele diz que está aprendendo alemão. Ele é culto.
É um cidadão.
Volta a ser convocado para a Seleção. Você elogia a convocação.
Ele volta a disputar uma Copa.
Volta a ser aquele líder em campo que só você viu lá na década passada.
Ele te dá entrevistas, te cumprimenta nos bastidores da Seleção.
Ele levanta a taça de campeão do mundo, volta como um herói para casa.
Teu amigo.
Vai para o Japão e você elogia que ele falou que "não são os outros que deveriam se adaptar a ele mas sim, ele deveria se adaptar onde ele estava".
Disputa nova Copa, mas, exagerou no papel de General e brigava em campo com os adversários, mas você não critica.
Jantares, almoços, conversas. Um convívio ótimo contigo.
Ele volta para casa.
Casa dele. Tua casa.
Bom ter os amigos de volta.
Não deu tão certo. Ele foi driblado duas vezes por um moleque.
Encerrou a carreira.
Vocês conviviam diariamente.
Jantares, almoços, conversas. Um convívio ótimo contigo.
Ele volta à Seleção, como treinador.
Faz um bom trabalho, você o elogia muito.
Ele te dá atenção. Te dá entrevistas. Informações.
Perde a Copa. Você não critica.
Passam os anos, ele vem treinar o time que começou como atleta.
Tá mudado. É outro homem.
Mas, algo aconteceu.
Ele não te dá mais informações.
Não te dá mais entrevistas.
Você fica magoado, você que o defendia tanto.
Ele vira comentarista de futebol nas horas vagas.
Mas da concorrência.
Vai falar em outro microfone, que não o teu.

Algo se quebra.
Tristeza.
Você que o apoiou tanto, sempre o elogiou, mesmo nos seus erros.
Ele não gosta mais de você.
Foi cair nos braços de outra emissora.
Não te dá mais entrevistas.
Como é triste esse mundo do futebol.

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